Benvenuto

Bem vindos ao humilde palácio literário desta humilde autora, que pode não ser imortal, mas tem a mania de renascer das cinzas de vez em quando. Fique a vontade para entrar em qualquer cômodo ou em qualquer texto, por favor só não alimente os monstros dos armários.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Um haikai


Ando assim sem tempo
Pra ter novas fantasias
Em Prosa ou em Poesia. 

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Bon soir, mes amis

Estou tão sem tempo para tudo que nem um poema decente consegui fazer para meu amado bloguinho. 

Além de eu estar atrasada com a matéria (de novo, só pra variar um pouquinho), minha psicóloga e meu prof de história geral conseguiram me convencer que fazer resumos pra colar na parede é bom pros estudos. Estamos em maio. As aulas começaram em março. Tenho, simplesmente três longos meses para por na parede de todas as matérias x.x (e como eu sou meio megalomaníaca, pretendo forrar a parede da sala toda até o final do ano xD já to indo no caminho certo xD)

Vim só pra mandar lembranças com este singelo Haikai. Um haikai é um poema de origem japonesa (o que é meio ÓBVIO com um nome desses) de 3 versos com 5/7/5 sílabas poéticas nessa ordem e obrigatoriamente. 

É até piada fazer haikai quando eu já faço sonetos e baladas com métrica desde os 15 anos -q

Fazer o que se estou sem tempo ._.

O poema é auto explicativo. Nem precisa de título. 

Agora devo ir o.o volto semana que vem (eu espero) com algo mais digno de vocês leitores e do meu blog (tentarey x.x)

Au Revoir o/

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Feliz aniversário para moi \O/

BON SOIR MES AMIS \O/
Passo rapidinho pelo motivo mais egoísta do mundo. Mas hoje eu não dou a mínima pra isso xD 

FELIZ ANIVERSÁRIO PRA MIM \O/

E como tudo que eu faço é servi-los, trouxe um poema meio capenga pra comemorar xD 

Minha vontade era ter feito um super conto com a temática dos Vingadores o.o (minha cabeça foi meio invadida por eles desde que vi o filme), mas estou SUPER SEM TEMPO PRA MAIS NADA 8D 
Nem deveria estar aqui o.o vim só porque eu disse que vinha o.o

Tenho de ser SUPER rápida o.o então, primeiro, obrigado a todo mundo que lembrou do meu níver =) nem que tenha sido pelo Facebook xD
Segundo, O POEMA /O/

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Diva de 20 anos

Hoje, senhores, completo vinte anos!
Duas décadas de Divina Existência!
Dona de uma própria inteira Era!
7305 dias de perfeita Proficiência!

Que vi da vida até então?
Mais do que contam os profetas. 
Criei mil e um castelos de imaginação,
E bebi muito da água dos poetas. 

Agora sigo vivendo: a vida continua. 
Já disse a música: o tempo não pára. 
Prossigo a reinar sobre a Lua e a Rua,
E vida longa para minha pessoinha rara!

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Foi feito hoje, meio nas coxas, mas sintetiza bem o dia xD

Agora tenho de ir xD pode até ter sido meu aniversário hoje, mas também foi mais um dia mais próximo da minha morte e, pior que isso: um dia mais próximo do vestibular D8

Eu adoraria ficar e filosofar sobre a morte, mãs TÔ ATRASADA PRA CARALEO NA MATÉRIA E TENHO DE ESTUDAR D8

O blog volta a programação normal dele no sábado ou no domingo xD nas últimas 2 semanas as postagens foram meio anômalas porque eu tava cheia de coisas pra fazer. Apesar de eu estar atrasada, até o fim de semana me ajeito e volto a freqüência bonitinha de sempre por aqui 8) 

Agora tenho de ir meus amores xD

Au revoir~

domingo, 13 de maio de 2012

Feliz dia das Mães

Bonjour, mes très cher amis! \o/
Depois de um breve inverno, cá estou eu nesse dia tão especial falando ao vivo e me mexendo neste bloguinho. 

Antes de mais nada, um Feliz dia das Mães para todos. \o/

Vim pra falar pouco de mim hoje. 

A semana foi corridíssima, principalmente porque me mantive fiel a promessa que eu fiz e TÁ-DAM! \o/ um conto fresquinho saído agorinha do forno. Conseguem sentir o cheirinho bom!?

Esse conto, já aviso que é meio macabro. o.o Só um pouquinho. E tem uma piadinha com os evangélicos (ou com religião, depende de como você interpreta). Não sejam fanáticos com ela, foi só uma piada. o.o

Ele é bem especial pra mim pelo simples motivo que ele se passa no Brasil. o.o pra quem me conhece, sabe que tenho um poderoso sentimento anti-patriótico. Minhas histórias se passam praticamente todas na Europa, algumas poucas em Nova Iorque. Ter uma história toda em solo nacional é uma das maiores homenagens que eu poderia prestar as mães nesse dia, porque essas histórias são uma raridade sem tamanho. 

Bom, dedico essa aqui para a minha mãe. Acho que ela nem vai ler e se ler nem vai gostar, mas vai dedicado para ela mesmo assim. 

Agradeço a todos que passaram por aqui na minha ausência e etecetera, mas hoje o foco vai todo pra esse conto. 

AGORA! \O/ COM VOCÊS! \O/ O CONTO! \O/

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Em um bairro afastado do centro de uma grande cidade do nordeste, em uma área de subúrbio pobre, havia uma casa antiquíssima, datada da época do Brasil Colônia. Uma velha Casa Grande que permanecia de pé e que a cidade engoliu em seu crescimento desorganizado. Uma velha casa que ninguém conseguia habitar.

Porque naquela casa tinha um fantasma.

Mas não era um simples fantasma.

Era um fantasma que guardava em si tamanha fúria que qualquer ser que ousasse adentrar em seus domínios era morto de forma cruel.

O nome do fantasma era (ou tinha sido) Marjani.

Ex-escrava.
Esposa de um marido morto ainda na África. 
Mãe de um filho assassinado injustamente. 

E foi este último item que gerou sua fúria.

Pois tudo que Marjani sempre quis foi formar uma família e, mais importante que isso, ela sempre desejou ser mãe.

Arrancaram-na da terra dela, mataram seu marido, tiraram sua liberdade e seus direitos, proibiram sua cultura.

Assassinar seu filho, seu maior desejo, foi a gota d'água.

Matou o senhor que matara seu filho e a família branca dele com um dos facões de cortar cana.

Foi morta quando, enlouquecida, tentou matar os jagunços e um deles tinha uma arma de fogo.

A morte, entretanto, não foi suficiente para aplacar sua ira. Marjani voltou fantasmagórica e tornou aquela casa grande inabitável.

Passaram-se algo em torno de 300 anos com ela 'inabitando' a casa. Talvez mais, talvez menos, mas o resultado final não é muito distante de 300.

Era um dia qualquer de chuva.

Marjani fazia o que sempre fazia quando não tinha uma vítima nova: rangia os dentes e remoía seu ódio ao mundo. Fez isso até ouvir um som baixo de alguém entrando pela cozinha. Um invasor.

A fantasma sorriu cruelmente e flutuou até o cômodo invadido.

Sua única alegria desde a morte do filho era matar invasores.

Ia feliz, cantando até.

Entrou pela porta que ligava sala a cozinha como se ainda fosse viva e logo avistou o forasteiro encolhido próximo ao antigo fogão a lenha. Um garotinho branco.

Marjani tirava sua alegria do ato de matar invasores, principalmente os brancos. Era tão bom matar branco! Era uma espécie de vingança contra tudo que aquela raça ruim fizera com ela.

Aproximou-se silenciosa. Iria primeiro dar um susto no moleque. Matá-lo enquanto tentava correr.

Porém, mal dera dois passos quando ouviu um soluço baixinho, abafado pelos braços magros do menino.

Marjani parou.

Por acaso do destino, o garoto se encolhera no mesmo canto sujo perto do fogão em que o filho dela se encolhia quando os filhos do senhor eram cruéis com ele. O filho dela também escondia o rosto nos bracinhos e abafava soluços até ela chegar e confortá-lo.

A fantasma ficou curiosa diante daquele estranho dejá vù
Por que chorava o branco?

Pensou por um instante. Podia sanar sua dúvida, matar o menino depois. Duplamente satisfatório.

Terminou de se aproximar da criança e materializou um corpo para si, para poder falar.

- Ei, garoto, o que foi?

Ele ergueu os olhos claros cheios de lagrimas.

- Desculpa! Achei que não tivesse ninguém em casa!

Ele estava molhado devido a chuva. O nariz escorria e os olhos estavam vermelhos. Ele tentou se levantar. Era franzino. Cinco ou seis anos no máximo.

Marjani revirou os olhos sem paciência.

- Perguntei o que há contigo, moleque! - esbravejou rispidamente.

Lágrimas novas brotaram dos olhos claros e ele se encolheu novamente.

- Desculpa! Desculpa! Desculpa!

O gesto despertou a Dó, há muito tempo adormecida, na fantasma. Ainda tinha sede de sangue, mas pela primeira vez em aproximadamente 300 anos conseguiu ignorar isso e focar em outro sentimento. Ficou dois segundos atordoada, desacostumada àquela emoção. (De novo uma leve semelhança ajudara o menino. O filho morto também se encolhia daquele jeito quando chorava).

Após a readaptação à pena, Marjani sentou ao lado dele e começou a passar a mão fria de fantasma nas costas dele pedindo para ele se acalmar. Mas ele apenas chorava.

Ela pensou um pouco no que fazer.

Quando seu filho chorava daquele jeito ela costumava cantar para acalmá-lo.

Foi o que ela fez.

Resgatou do fundo da mente uma canção dos tempo de liberdade. Limpou a garganta (mais como hábito) e começou a cantar em sua língua materna enquanto massageava as costas trêmulas.

Aos poucos o choro foi parando e ele encarava maravilhado o canto de Marjani. Não a interrompeu, com medo de romper o feitiço musical estabelecido pela fantasma.

A música terminou com o tempo.

Por um instante ela quase se questionou o que fazia. O encanto se enfraquecera.

Naturalmente, porém, o menino voltou a alimentar a magia.

- O que fala a música? - ele perguntou intrigado.

Pela primeira vez em 300 anos, Marjani sorriu sem ser por ter matado alguém.

- Conta a história de um guerreiro do meu clã que enfrentou um bando de leões famintos.

- Ele ganhou? Por que ele luta com o leão? Como ele luta? O que aconteceu depois?

A fantasma riu e, resgatando do meio de suas emoções esquecidas a paciência, respondeu todas as perguntas do menino. Nesse tempo a chuva passou e ele disse que tinha de voltar para casa. Mas antes de ir, a fantasma conseguiu responder uma das perguntas que surgiram em sua mente durante a conversa. O nome do menino.

Era Mateus.

No dia seguinte, Marjani amargamente voltara a sua rotina de ranger dentes quando ouviu um suave som na cozinha. Flutuou agressiva para lá, já sentindo gosto do sangue. Entretanto, parado à porta, meio inseguro, estava Mateus.

Ela parou também, ainda invisível, encarando o menino, sem saber o que fazer.

Reagiu por hábito, sentindo o que sempre sentia: raiva. Todavia, sua raiva estava bem amaciada devido aos eventos do dia anterior.

Materializou- se diante dele com a testa franzida, braços cruzados e sem se importar se o assustaria ou não.

-O que está fazendo aqui?

Mateus se sobressaltou. Desviou os olhos dela nervoso e remexia na barra da camiseta suja que usava.

- Eu queria que... Só se der... Sabe... Que... Que...

Ela revirou os olhos.

- Fale de uma vez!

Ele a encarou, seus olhos claros cheios de expectativa.

- Pode cantar de novo pra mim?

Ela franziu ainda mais a testa. A pergunta a podia tê-lá desarmado um pouco, mas ainda predominava a raiva.

- Por quê?!

A criança voltou a demonstrar nervosismo.

- É que é tão bonito e você deve estar tão sozinha, moça-fantasma, e aí deu vontade de vir e... E...

Mas não era preciso mais nada além do segundo motivo para convencê-la. Marjani se sentia só desde o instante que mataram seu querido filho.

Só com sua raiva.

Desarmou sua expressão e suas defesas. O encarou sem saber o que fazer.

O menino devolveu o olhar, já muito nervoso.

- ...desculpa. Eu vou embora...

- Não! - Marjani se sobressaltou. Mateus a encarou esperançoso - Eu posso cantar sim... Se quiser...

O rostinho dele se iluminou.

- Verdade?

Ela sorriu também, sentou-se no banco velho da cozinha e sinalizou para que ele sentasse também. Escolheu outra música de tempos imemoráveis e cantou como se fosse nova. Seguiu-se outra bateria de perguntas. Mateus fazia uma atrás da outra. Conversaram até o entardecer quando ele disse cheio de tristeza (e até meio assustado, com medo de apanhar) que tinha de voltar.

Fizeram a mesma coisa no dia seguinte, no dia depois e depois disso.

Marjani no início estranhava a presença de Mateus, mas depois que se acostumou ao menino cada momento que ele se atrasava a deixava com os nervos à flor da pele. Ela pegou mania de descontar isso na mobília. O segundo andar da casa já estava todo destruído.

Ele passou a ser a alegria dela.

Com o tempo, Marjani foi aprendendo coisas sobre a vida curta e complicada de Mateus.

A mãe fugiu com o amante quando o menino era muito pequeno, ele mal se lembrava dela. O pai afogava qualquer frustração (e eram várias) em um copo de bebida e era um bêbado violento. Mateus ia para lá fugindo da agressividade do pai.

Mas apesar das adversidades, o menino era brilhante.

Quando acabaram as canções, primeiro ele tentou cantar para ela, mas Marjani não entendia como "vem fazer um lêlêlê, se eu te pegar você vai ver" podia ser música. Então Mateus olhara para ela nervoso e perguntara:

- Você quer que eu te conte uma história?

Aqueles grandes olhos claros a olhavam com esperança.

Com aquele contato todo, Marjani já percebera que não conseguia dizer não para aqueles olhos. Estranhamente lembravam os grandes olhos cor de ônix de seu filho falecido. Tinham o mesmo brilho forte, a diferença era que os do filho brilhavam como estrelas no céu escuro; os de Mateus, no céu claro.

Ela sorriu.

Claro, querido, conte.

Ele sorriu também e contou mil e uma histórias que ele mesmo criava.

Um garoto brilhante.

Falava pelos cotovelos suas idéias. Algumas com dragões e cavaleiros, outras com onças e índios, outras com leões e guerreiros como os do clã dela. Algumas até conseguiam juntar tudo isso e um pouco mais.

Certo dia, Marjani ficou cismada em entender o que era um castelo (nunca vira um em toda sua vida). Com naturalidade, Mateus respondeu:

- Ah, mãe, cê sabe, né? Aqueles castelos de pedras e Torres e coisa e tal...

Ele continuou falando, mas ela parara de escutar.

Mãe.

Mãe!

Mãe?

Como assim "mãe" ?

Mateus percebeu a distração dela e a encarou sem entender.

- Que foi, mãe?

Marjani o encarou.

Como pudera ser tão cega?

Ao pouquinhos aquele garoto branco conseguira se tornar seu filho, não por sangue, mas por espírito. Só agora ela via isso. Já não mais aguardava visitantes para saciar sua sede de sangue, nem ficava a ranger dentes pelos cantos. Claro, podia até destruir a mobília de preocupação esperando por ele, mas ela já não cultivava toda a raiva de antes. Desenvolvera afeto por ele, e ele, pelo visto, fizera o mesmo.

Marjani sorriu para Mateus.

- Nada, querido. Continue.

Ele sorriu também e continuou, animado e tagarela como sempre.

Encontravam-se toda tarde logo após o horário de almoço e conversavam até o entardecer quando ele tinha de voltar para casa para não apanhar.

Ficaram mais ou menos um ano com esses encontros vespertinos. O ano que valeu mais para Marjani do que os 300 anteriores.

Porém uma noite a situação mudou drasticamente.

Chovia, e Marjani encarava a chuva pela janela do segundo andar distraída. À noite antigamente ela ficava rangendo dentes, agora ficava pensando nas histórias que Mateus lhe contava durante o dia. Era o mais próximo que ela chegava de sonhar em séculos.

Ela encarava a chuva "sonhando", quando ouviu um barulho brusco, provavelmente da cozinha. Se fosse antigamente, desceria com sede de sangue. Agora ela levantou as sobrancelhas surpresa e ficou curiosa para ver quem era, pois não era comum visitantes àquela hora com aquele tempo. Mateus, de certo modo aplacara a sede de sangue. (na realidade, sua sede de sangue fora aplacada por um motivo prático. Marjani ainda tinha raiva o tempo todo, mas tinha total noção da sujeira que matar uma pessoa geraria. E agora tinha criança na casa! Não podia simplesmente ficar matando aí em qualquer lugar que o menino visse, e ia ser um inferno para limpar tudo antes dele chegar.).

Foi flutuando invisível até o andar de baixo. Da sala de jantar através da porta que ia para a cozinha, viu Mateus, ensopado e choroso, correndo de um homem, tão encharcado quanto a criança, que segurava um cinto de forma ameaçadora.

Marjani imediatamente se materializou e assim que o menino a viu correu até ela. A fantasma abraçou o garoto choroso e o homem se aproximou.

- Larga dessa preta, moleque! Vem me enfrentar como homem! - esbravejou com a língua meio mole.

Agora olhando de perto, Marjani percebeu como ele era parecido com Mateus. Provavelmente era o pai agressivo de quem tanto ouviu falar.

- Mãe! Mãe! Socorro mãe! - soluçou Mateus se agarrando nela.

Marjani sorriu, a sede de sangue atingindo seu máximo pico de todos os tempos.

- Querido, corre até a casa do vizinho, está bem?

Ele a encarou choroso e assustado.

- Mas...

Ela sorriu para ele.

- Tudo bem, querido. Eu converso com teu pai.

O menino assentiu e correu para a saída na frente da casa. O pai tentou correr atrás dele, mas Marjani se pôs na frente dele.

- Saia da frente, preta suja!

Ela sorriu cruel.
 
Os gritos dele, apesar da chuva, foram ouvidos a três casas de distância.

Os brancos lhe tiraram um de seus filhos. Não iriam tirar outro.

O vizinho que recebeu Mateus, deixou o menino com a esposa e foi ver o que acontecia na casa velha. Encontrou um emaranhado de sangue, vísceras e carne dilacerada rodeando uma negra com roupas antigas e sujas de sangue e que ria enlouquecida enquanto cortava ainda mais a carne com um grande facão.

Ele correu dali e acionou imediatamente a polícia. Quando esta chegou, encontrou apenas o corpo, que teve de ser retirado em saquinhos. Nada da assassina.

Marjani assistiu a tudo invisível, segurando a risada cruel e o riso de alívio.

Aquele bruto mereceu o castigo! E agora Mateus não teria que se preocupar mais com o pai violento!

Perfeito.

Exceto pelo fato que, depois daquela noite, Mateus não voltou mais.

A polícia esteve lá várias vezes atrás de provas, mas nada encontrou.

E nada de Mateus.

O grupo evangélico do bairro foi lá para fazer uma seção de exorcismo na casa velha. Marjani não entendeu direito o que eles faziam e falavam. Algo sobre o sangue de um tal de 'Gézuis' e poder. Ela não entendeu a relação, mas achou graça daquele bando de fanáticos.

E nada de Mateus.

Outras pessoas apareceram por ali. Curiosos, adolescentes buscando encrenca, crianças brincando de pique-esconde. A fantasma passou a assustar todos de lá, cansada de tanto assédio a sua moradia.

E, novamente, nada de Mateus.

Depois de quatro dias, Marjani estava mais do que aflita e preocupada. Onde estava seu menino? (Nada ela sabia sobre serviços sociais e orfanatos, não existiam na época dela).

Que teria acontecido com ele?

Foi então que uma conclusão horrível cruzou a mente dela.

Por que ele voltaria ao local onde o pai fora morto? Bem ou mal, aquele cara ruim era o pai de Mateus. E ele era um bom menino que provavelmente amava o pai. Ele provavelmente a odiava agora!

Pelos deuses!

O que ela fizera?!

Mil e uma lágrimas fantasmagóricas ela derramou quando percebeu seu erro. Tinha tentado proteger seu filho, mas acabara por afastá-lo de si.

Uma melancolia tomou conta de Marjani. Ela ficava agora se lamentando pelos cantos. Já não matava ninguém, por remorso. Assustava as pessoas porque queria ficar sozinha se lamentando. Nada agora lhe dava felicidade.

Foi como perder outro filho.

Tentou até sair da casa para procurá-lo, mas 300 anos tinham se passado desde a última vez que saíra de lá. O mundo tinha ficado confuso demais para Marjani.

Chorava e choramingava o tempo todo.

Passaram-se alguns anos nessa tristeza sem fim. Algo próximo a 20, talvez um pouco a mais, talvez um pouco a menos.

Era uma manhã cedinho de sol.

A fantasma se lamentava no canto mais escuro do segundo andar, quando, mais uma vez, ouviu o som de alguém entrando pela cozinha.

Ela torceu para o invasor ir logo embora.

Ele não foi.

Marjani então puxou seus cabelos de frustração e gritou a plenos pulmões:

- VÁ EMBORA!

Ouviu então passos cambaleantes, como alguém que toma um susto e dá um ou dois passos para trás. Entretanto, a pessoa não recuou mais do que isso e teve a ousadia de perguntar em voz alta:

- Tem alguém aí?

A fantasma ficou irritada. Quem aquele estranho pensava que era para invadir a casa dos outros e exigir satisfações? Desceu fazendo barulhos fantasmagóricos e jogando as coisas pela casa. Passou pela porta que ligava a sala de jantar com a cozinha e se materializou de supetão emanando aura fantasma na frente do estranho.

Era um homem branco alto de olhos claros perspicazes. Segurava um buque de flores brancas. A encarava surpreso, mas não assustado.

- Eu lembrava da sua aparição bem diferente.

- Que quer dizer estranho!? - Marjani esbravejou em tom de voz de assombração.

Ele coçou o queixo com o braço livre.

- Da voz também. Bem diferente.

Ela perdeu a paciência e materializou seu facão. Não iria matá-lo, só dar um susto e o por para correr. Antes que a fantasma pudesse erguer a arma, porém, o homem mostrou as mãos em um gesto de boa vontade.

- Calma! Mãe, calma...

Diante das palavras dele, toda a aura fantasma ameaçadora desapareceu e ela finalmente o reconheceu.

- ...Mateus?

Mateus sorriu para ela.

- Faz bastante tempo não é, mamãe?

Ela correu e o abraçou.

- Onde você esteve?! Tem noção de como eu estava preocupada?! Como você está?! Está bem?! O que aconteceu?! Me diga!

Ele sorriu mais.

- Aconteceu tanta coisa! Desculpa eu te preocupar. Tenho tanto para te contar... Mas antes... - ele ofereceu o buque para ela - Feliz dia das Mães!

Marjani não tinha a menor noção do que vinha a ser o dia das mães, mas gostou da idéia. Principalmente porque naquele dia se realizava seu maior sonho.

Seu filho ali, com ela.

Sorriu.

Nessa hora sentiu seu corpo se esquentar pela primeira vez em séculos. Um calor agradável que se espalhou por ela. Sua pele emanava brilho.

Mateus se sobressaltou.

- Mãe, o que é isso?

Ela continuou sorrindo.

- Acho que chegou a hora d'eu seguir caminho.

Ele ficou aflito.

- Mas por quê? Logo agora que consegui te reencontrar! Eu preciso de você mãe!

Marjani acariciou o rosto dele.

- Não tenho mais minha raiva ou minha tristeza me prendendo à terra agora que você voltou. E eu vou estar sempre com você, querido filho. - ela beijou a testa dele (Teve de ficar na ponta dos pés. Céus! Como ele crescera!) - Adeus querido, e obrigada por tudo.

O espírito dela desapareceu na luz da manhã.

Para onde foi, eis um belo mistério.

Mateus ficou abobado sem entender o que acontecera por alguns instantes. Quando deu por si de novo percebeu que chorava.

Chorou por alguns momentos. Depois riu de si mesmo e enxugou um pouco as lágrimas. Era melhor que as coisas fossem daquele jeito, mesmo ele não gostando do desfecho. Não era natural a permanência dela na terra. Sua mãe tivera mesmo de ir para um lugar melhor.

Caminhou até próximo ao antigo fogão, no local onde 20 anos antes ele se sentara pela primeira vez com a mãe. Mal se lembrava da música que ela cantara, mas jamais se esqueceria da história que ela contava.

Depositou as flores ali.

Sorriu triste.

- Feliz dia das mães, mamãe. Espero que esteja bem. Te amo muito.

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E aí? Gostaram?

Esse conto foi basicamente escrito em dois dias. Não, eu não menti quando disse que passei um tempão escrevendo ele. É que primeiro fiquei uma semana inteira patinando em um protótipo mal feito dele que tava ENORME mas chato pra cacete. Aí nessa sexta os deuses da inspiração resolveram me agraciar com um sopro divino e veio isso. Nada mal na minha modesta opinião, uma vez que contei toda a história que eu queria.

Foi bem legal escrevê-lo. Foda foi digitar esta merda pelo iPod x.x

Mas enfim, eu devo dar as caras por aqui essa semana de novo na quarta o.o

É que quarta é meu aniversario xD

Pretendo fazer outro conto para por aqui, MAS NÃO PROMETO PORRA NENHUMA DESSA VEZ Ò.Ó.  Então não criem grandes esperanças o.o pretendo tentar fazer outra coisa sim, mas não sei se agüento outra maratona como a desse conto de hoje nessa mesma semana x.x

Enfim, Au revoir mes amis~